FOLHA DE S. PAULO
Elas são pequenas, mas trabalham para gente grande. Com campanhas inovadoras nas redes sociais, um grupo de novas agências está conquistando contas de gigantes dos ramos de alimentos, telefonia, automobilismo e muitos outros, que até pouco tempo atrás só delegavam suas ações de publicidade às maiores agências do país.
Elas são pequenas, mas trabalham para gente grande. Com campanhas inovadoras nas redes sociais, um grupo de novas agências está conquistando contas de gigantes dos ramos de alimentos, telefonia, automobilismo e muitos outros, que até pouco tempo atrás só delegavam suas ações de publicidade às maiores agências do país.
Foi nas grandes empresas, aliás, que a maioria desses empreendedores da
publicidade digital começou a carreira. Com mais ou menos noção de que
um novo mercado se abria, eles deixaram o emprego fixo para criar o
próprio negócio. Começaram em casa, chamaram amigos para ajudá-los,
alugaram uma sede e, conforme os trabalhos iam surgindo, foram
contratando mais gente.
Com o crescimento, foi preciso dividir funções e profissionalizar a atividade --mas só até certo ponto.
Os violões pelos cantos, as cervejas na geladeira, o videogame para
depois do expediente e os objetos divertidos espalhados pelas mesas
denunciam o clima caseiro preservado intencionalmente.
"Até hoje não temos secretária. A gente é que serve café nas reuniões",
conta Jota Ocuno, 29, da Fillet, agência que começou na casa de sua mãe e
hoje tem 22 profissionais em um estúdio na Vila Mariana, na zona sul de
São Paulo.
Talvez por conseguirem manter esse clima ameno, elas costumam registrar
pouca rotatividade de pessoal. "Isso significa que as pessoas acreditam
no trabalho que fazem. Queremos continuar crescendo, mas sem perder essa
nossa essência", diz Ana Laura Mello, 31, sócia da Remix Social Ideas,
com 24 pessoas na equipe.
Em um campo novo, no qual tudo estava por fazer, foi preciso lançar mão
de muita criatividade para descobrir as melhores formas de trabalhar.
Campanhas no Twitter, jogos para celulares, aplicativos no Facebook e
eventos para divulgar o perfil de uma marca entre internautas célebres
(chamados de influenciadores) estão entre os recursos para divulgar os
clientes na rede --e também fora dela.
"Embora nosso trabalho tenha raízes fortes no digital, ele não acontece
só na internet. O objetivo é criar resultados no universo físico", diz
Ian Black, que ficou famoso como blogueiro e criou a agência New Vegas.
"É o que chamamos de 'cibridismo'. O mundo físico é onde está a vida das
pessoas, por mais conectadas que estejam."
Muitas dessas pequenas empresas de publicidade conseguem seus maiores
clientes via agências tradicionais - que, em vez de manter uma equipe
enorme para todas as áreas, preferem terceirizar alguns serviços, como
campanhas no Facebook ou no Twitter.
Por um lado, isso traz um bom fluxo de clientes (e de dinheiro) para as
agências iniciantes. "Quando montei a Fillet, começaram a chover
trabalhos desse tipo. Foi isso que fez a gente crescer rápido", diz Jota
Ocuno.
Mas também há desvantagens, pois, muitas vezes, as agências menores não
podem assinar o trabalho ou precisam executar uma ideia que nem sempre
lhes agrada. A New Vegas tenta evitar esse tipo de acordo. "A outra
agência acaba sendo um intermediador desnecessário. E toda a lógica da
internet é baseada em diminuir intermediadores", explica um dos sócios,
Solon Brochado, 33.
A Remix, por sua vez, tenta equilibrar as coisas e negociar para que
possa assinar o trabalho com a agência que a contrata. "Já aconteceu de
termos de ficar 'escondidas', e é ruim ver outra pessoa recebendo o
mérito pelo seu trabalho. Mas hoje conseguimos assinar numa boa.
Queremos contar para todo mundo o que estamos fazendo", diz a sócia Ana
Laura Mello, 31.
Criada em 2009 por um publicitário que saiu de uma agência para trabalhar na casa da mãe, a Fillet cresce rápido. Ainda assim, o fundador Jota Ocuno, 29, tenta manter o clima informal. O trabalho é intenso para os 22 membros da equipe, mas nada que se
compare à fase mais pesada, quando dez pessoas se espremiam em uma sala
de 30 m2. "O ar condicionado era péssimo, todo mundo trabalhava sem camisa, fumava na sala", lembra Jota.
O foco sempre foi em marcas grandes --o "filé" do mercado. A maioria dos
trabalhos vem de agências maiores, mas há clientes diretos, como Jack
Daniel's.
"Você compartilharia isso no Facebook? Falaria sobre esse assunto no Twitter?" Sempre que pensam em uma campanha para as redes sociais, as sócias da Remix se fazem essa pergunta.
"Mais do que entreter, a marca tem de prestar um serviço", diz Lalai Luna, 39. Ela e sua sócia, Ana Laura Mello, 31, trabalharam juntas em uma agência de internet. Ana é publicitária e Lalai entrou para esse mundo depois de se tornar uma conhecida blogueira de música.
No início da Remix, em 2009, cada uma trabalhava em sua casa.
"Começamos de pijama", lembra Ana. À medida que os clientes surgiam, elas se mudaram para um escritório compartilhado e depois para o atual, uma casa nos Jardins, zona oeste de São Paulo.
São 24 profissionais e clientes como Fiat, Itaucard e Oi, além das marcas menores: "Tem clientes superpequenos e que a gente ama, porque são um 'megacase'", diz Ana Laura.
Portfólio
ITAUCARD RACHA
Itaucard
Para divulgar que o cartão dá 50% de desconto em programas culturais, criou um concurso com Luciano Huck. Os seguidores enviavam frases com um pedido e o apresentador "rachava" a conta com os mais criativos. A ação teve mais de 418 mil pedidos e foi a maior do Twitter em 2011.
CLÁSSICOS DA TWITTERATURA
Suzano
Para divulgar um tipo de papel especial para livros da Suzano, a Remix criou a coleção "Clássicos da Twitteratura Brasileira", livros com frases de tuiteiros famosos, como o psicanalista Flávio Gikovate e a cantora Pitty.
www.remix.ag
Christian von Ameln/Folhapress
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As sócias Ana Laura Mello (á esq.) e Lalai Luna, da agência Remix |
Criada em 2009 por um publicitário que saiu de uma agência para trabalhar na casa da mãe, a Fillet cresce rápido. Ainda assim, o fundador Jota Ocuno, 29, tenta manter o clima informal.
O trabalho é intenso para os 22 membros da equipe, mas nada que se compare à fase mais pesada, quando dez pessoas se espremiam em uma sala de 30 m2. "O ar condicionado era péssimo, todo mundo trabalhava sem camisa, fumava na sala", lembra Jota.
O foco sempre foi em marcas grandes --o "filé" do mercado. A maioria dos trabalhos vem de agências maiores, mas há clientes diretos, como Jack Daniel's.
Portfólio
UM BRINDE NO ESPAÇO
Jack Daniel's
No aniversário do uísque, a Fillet pediu que os fãs no Facebook enviassem
fotos em que estivessem brindando.
As imagens foram exibidas por um
iPad dentro de um balão meteorológico, e uma câmera filmou tudo com um fundo especial: a Terra vista de cima.
NAÇÃO ROQUEIRA
Kiss FM
Foi criada uma enciclopédia virtual colaborativa sobre rock, abastecida pelos fãs no Facebook. Os mais assíduos ganham a chance de apresentar o programa "Nação Roqueira", da rádio.
www.fillet.com.br
Christian von Ameln/Folhapress | ||
Rodrigo Mauger, Jota Ocuno e André Veríssimo (da esq. para a dir.), da agência Fillet |
A New Vegas já tinha sede e funcionários antes mesmo de existir. Em 2010, quando o então freelancer Ian Black,34, foi chamado para um projeto grande demais para ser feito sozinho, ele contratou duas pessoas e alugou uma casa por 30 meses. Mas o trabalho foi cancelado em cima da hora, e Ian criou a agência para não perder a estrutura criada.
A busca por projetos levou à maternidade Santa Joana, o primeiro cliente da New Vegas. Hoje, são dez profissionais e clientes como Bradesco e Heineken.
O empresário, que já foi sorveteiro e office-boy, passou a trabalhar com publicidade após se tornar um blogueiro conhecido e procura ampliar o foco do trabalho nas redes sociais. Faz pesquisas sobre o tema, promove um evento anual para discutir o Facebook e dá aulas.
"Mídias sociais são pessoas que fazem milhares de coisas, não necessariamente consumir informações de marcas", diz.
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